Do Terror

Vi bastantes filmes de terror na minha adolescência, e antes também. Depois fartei-me um pouco.

Vi alguns Halloweens, mas cansei-me. Passar uma hora e meia a ver um tipo de máscara a andar atrás de pessoas que correm mais do que uma maratona, leva uma pessoa ao cansaço.

Vi os Pesadelos em Elm Street, gostei do primeiro e do último, último antes do que o que o coloca frente a frente com o Jason de Sexta-Feira, 13. Que também vi, mas… (a ideia da maratona, mas numa floresta…)

Hellraizers, bruxas, fantasmas, extra-terrestres, cemitérios de animais, peixes, Peter Jacksons em início de carreira. Foi um ver se te avias.

Ia adormecendo a ver O Exorcista, e nem o vomitado verde me enojou. Ok, ok, só vi o filme aos 18 anos. Pode explicar a ausência de medo, e tensão. Prefiro, de longe, o livro, que li na viagem de finalistas.
Fartei-me do cinema sangrento e gore (embora ache alguma piada aos Saw e Hostel – piada moderada), e prefiro hoje o terror psicológico.

Não deve ser à toa que o filme que mais me aumentou a tensão foi Os Outros, muito por culpa do jogo de cintura da máquina de filmar e dos momentos de suspense. Nada de novo, mas a presença de Kidman pode ter ajudado. Depois da neurose do então marido Cruise em Eyes Wide Shut, foi a neurose para com as crianças, que não podiam apanhar luz, que me convenceu.

E agora esta nova vaga de filmes de “terror” asiáticos que tenho visto. Entre aspas porque tenho difculdade em utilizar o terror. Que tenho visto e que muito me têm impressionado. Explico, uma vez mais.

The Ring e The Eye surpreenderam-me. Não tanto pela capacidade de infligir medo, mas…

Pela capacidade de fazer um excelente filme visualmente com pouco dinheiro, como The Ring que custou pouco mais de 300 mil contos e ao contrário da maioria dos filmes de terror pouco me assustou ao vê-lo, mas deixou-me uma sensação de desconforto (e medo) depois de ter terminado.

Pela humanidade, poesia, volta como mostra o medo do desconhecido sem cair nas opções narrativas de 6º Sentido. Em termos de actores será menor do que o americano, mas é na construção visual (simples) que The Eye consegue vencer, na minha óptica o já citado 6º sentido.

Esta semana, vi A Chave (gosto destes títulos, mais curtos, em contrapartida aos citados lá em cima).

O Domingos dissera-me que não gostara, mas arrisquei. Mais um , menos um. Quantas horas já perdi a ver cinema de “terror”?
O filme conta a história de uma jovem que perdeu o pai e ocupa a sua vida a cuidar de idosos à beira da morte. Uma terapia (consciente ou inconsciente) para ultrapassar a sua inacção na morte do pai.
Vai cuidar de Ben, que sofreu uma trombose, junto com a esposa deste, para a mansão deles, na Louisiana dos pântanos.
Aqui descobre a história da casa e dos criados mortos, na década de 20, por praticaram hoodoo (o voodoo é uma religião, o hoodoo é magia).
A pouco e pouco começa a desconfiar das razões da trombose de Ben, e do amor da esposa por ele, à medida que tenta desmistificar a magia do hoodoo.

O filme tem uma história interessante, e percebo que o final tenha desgostado muito boa gente, embora me tenha agradado e marcado. Acordei de manhã a pensar nas implicações tramáticas daquele final. (A alteração do final expectado fez-me pensar na criacção do texto e em como optamos por determinadas personagens como principais, e nos porquês desta questão, e como por vezes podemos mudar esta concepção através de algumas linhas no final). E quando um filme nos assalta a mente no dia seguinte, possivelmente será um bom sinal.
Em termos técnicos não será dos melhores, a realização é fraquinha, e o ambiente, ao invés do esperado, não assusta. Mas, não foi por isso que gostei, foi mesmo pela história.
Taras…